Programa Homem e a Bisofera-MAB

O que é o programa MAB

Em fins de 1982, inscreveram-se, no âmbito do Programa “MAB” 1030 projetos de investigação de campo, associando mais de 10000 investigadores, de 79 países.

O homem predador

Todas as formas de vida estão concentradas na fina camada de terra, ar e água que envolve o nosso planeta: a biosfera. Esta é formada por múltiplos ecossistemas, cada um constituindo uma entidade circunscrita no espaço e no tempo incluindo não só todos os organismos que o habitam- as populações de animais, de plantas, e de outros organismos vivos, entre os quais se inclui, evidentemente, o homem- mas também as condições físicas do clima e do solo e ainda todas as interações dos organismos entre si e entre estes e as condições físicas.

Exemplo: uma floresta tropical num determinado local e num determinado momento, com os milhares de espécies vegetais, animais e microbianas que habitam a parte aérea e o solo da floresta, os milhões de interações específicas que se produzem entre elas, as diversas influencias que o clima e o solo exercem sobre a vida destes múltiplos seres e a modificação que estes sofrem sob o efeito das diversas atividades dos organismos e da própria existência da floresta.

De início, a ação que o homem exercia nestes ecossistemas, de que ele era parte integrante, não era mais importante que a de qualquer outra espécie de mamíferos. No entanto, a partir do momento em que se tornou senhor do fogo, inventou os utensílios e a agricultura, o homem começou a ter poderes para modificar profundamente o ambiente “natural”, o seu equilíbrio inicial e a sua lenta evolução. Estes progressos técnicos permitiram-lhe transformar o seu ambiente imediato de maneira a aí viver menos dificilmente, agravando, no entanto, cada vez mais o equilíbrio dos ecossistemas.


Em consequência dos enormes progressos da ciência e da tecnologia, o crescimento rápido das indústrias modernas que eles viabilizaram, a explosão demográfica e o desenvolvimento de imensas aglomerações urbanas onde vive cerca de metade da população mundial conferiram ao homem uma tão grande influência sobre o seu meio que ações irrefletidas poderiam introduzir na biosfera fatores de rutura e de instabilidade tão poderosos que poderiam conduzir a sua irreversível degradação.

Um precursor

O Programa Biológico Internacional

Confrontada com este problema a comunidade científica procurava acelerar as investigações iniciadas nos anos de 1950. Assim nasceu em 1964 o Programa Biológico Internacional (PBI) cujo principal objetivo era de mobilizar os investigadores, pôr à sua disposição os mais aperfeiçoados instrumentos técnicos e reunir os recursos necessários para este fim, não apenas para estudar este ou aquele elemento de um determinado ecossistema, mas para compreender todo o seu funcionamento.

O PBI, concluído em 1974, conheceu notáveis sucessos. Mas como qualquer precursor apresentava pontos fracos que as evoluções gerais vividas no mundo, durante a sua aplicação, tornaram redibitórios. Em particular o PBI não punha suficiente ênfase no estudo das zonas de junção entre ecossistemas vizinhos— as interfaces – ainda que ecologicamente as mais críticas. Daí a necessidade de promover uma ação mais sintética. E, acima de tudo, o PBI permanecia um programa animado unicamente por especialistas das ciências da natureza: atribuía pouca importância aos dados sociais e económicos no estudo de ecossistemas. Não assegurava tarefas de formação e sua execução requeria meios técnicos e materiais de tal envergadura que de facto, a maioria dos países em desenvolvimento estavam dele excluídos.

Ora, simultaneamente, surgia nos países desenvolvidos o “movimento ecológico” e os dirigentes do Terceiro-Mundo avaliavam o grau de interpenetração entre o ambiente e o desenvolvimento. Tornava-se urgente abrir a investigação ecológica às aspirações do Homem, de todos os homens, e agir para melhor responder às necessidades de concretas de cada comunidade humana.

O que é o MAB?

Colhendo ensinamentos dos sucessos e das lacunas do PBI, foi lançado em novembro de 1971, sob a égide da UNESCO, o Programa sobre o Homem e a Biosfera (MAB, do inglês “Man and the Biosphere”). O seu objetivo é continuar a desenvolver os conhecimentos científicos que permitam gerir racionalmente os recursos naturais e assegurar a sua conservação, formar quadros competentes neste domínio, difundir os conhecimentos adquiridos tanto junto de quem de direito decide em cada país, como junto da população em geral.


O Homem e o MAB

No seu início, o MAB estudava preferencialmente os impactos da atividade humana sobre os ecossistemas. Depois, pouco a pouco, e muito naturalmente, o próprio homem foi-se incluindo nos ecossistemas e na biosfera, a ponto de se tornar o centro destes estudos. O MAB centra a sua atividade nos problemas do homem face ao seu ambiente, estabelece o programa sobre as suas aspirações e necessidades.

A participação

Foi assim que a participação se tornou o tema central para a nova geração de atividades do MAB. Face a complexidade dos problemas do ambiente, nas suas origens como nas suas consequências, tornava-se imperioso não só recorrer a um grande número de disciplinas científicas e técnicas: botânica, zoologia, climatologia, científica dos solos, geografia física, bioquímica, biologia, matemáticas, mas também obter o concurso das ciências sociais e humanas, e até dos planificadores.

Esta abordagem interdisciplinar homens de todas as ciências e “os que decidem” permite não só tomar em consideração os múltiplos fatores que caracterizam uma dada situação, mas também as interações que inevitavelmente existem entre eles.

Esta participação seria inevitavelmente incompleta se se limitasse unicamente a especialistas, por mais diversas que pudessem ser as suas formações e as suas funções. O MAB esforça-se, pois, por associar tão estreitamente quanto possível a população local a realização dos projetos, de modo a ter em conta as suas preocupações e a dar-lhe a possibilidade de deles tirar proveito.


Trabalhos em campo.

Um tanto confinadas aos seus laboratórios, muitas vezes efetuadas com uma base sectorial e em contextos ecológicos e socioculturais muito particulares, as investigações relativas ao ambiente e aos recursos naturais correm risco de serem de fraca utilidade imediata.

Doravante o MAB dedica-se a fornecer informações científicas necessárias para resolver os problemas concretos de gestão de recursos naturais – a sua exploração e conservação – problemas considerados prioritários simultaneamente, pelas populações, planificadores cientistas que, localmente, são com eles confrontados diariamente. O programa privilegia também a ação e a experimentação de campo, adotando princípios e utilizando modalidades tão simples quanto possível. O programa pretende fornecer aos responsáveis pelas tomadas de decisão pareceres científicos bastante sólidos e claros para que possam escolher, com pleno conhecimento de causa, uma linha de ação que responda aos problemas apresentados. Finalmente o programa deve ser executado com a maior maleabilidade mutáveis e às novas prioridades dos países.

Numa zona subdesértica do Norte do Quénia, por exemplo, os mecanismos tradicionais, tão subtis e complexos, das populações nómadas e pastoris confrontam-se, por um lado, com as novas práticas induzidas pela “modernização” (como a descoberta de matérias-primas, o comércio internacional, o relacionamento contemporâneo dos Estados ou a instalação permanente de comunidades humanas junto a cursos de água) e, por outro lado, com a exploração excessiva das pastagens. Em consequência uma intensificação da desertificação. O projeto MAB “Projeto integrado sobre as zonas áridas” (IPAL) consagra-se à investigação das mudanças sofridas por um ecossistema árido; há que estudar em particular como poderiam ser modificadas ou, relativamente a algumas, substituídas, as práticas tradicionais dos nómadas. Os especialistas do clima, da hidrografia, da geologia, e dos solos, da vegetação, da vida animal selvagem e doméstica, das práticas pastoris e da história participam no empreendimento. Este projeto acaba de ultrapassar a sua fase de puro estudo para alcançar o estádio das realizações concretas: a reabilitação efetiva desta região árida.

Formar a educação para o meio ambiente

Numerosos países em desenvolvimento dispõem apenas de um reduzido número de quadros formados em ecologia e disciplinas conexas, capazes de conduzir investigações orientadas para a solução dos problemas concretos, em conformidade com a tese de MAB. Além do mais, a formação recebida pelos estudantes dos países em desenvolvimento não corresponde, por vezes, nem aos objetivos, nem às prioridades, nem aos problemas específicos do desenvolvimento de sua região. Por isso, a formação representa um elemento chave do MAB está estreitamente ligada às atividades de investigação me matéria de ordenamento de território e da gestão dos recursos naturais. Leia mais.